quarta-feira, 8 de junho de 2011

Um rio chamado Atlântico - à procura de ligações entre Brasil e a África no período Colonial

Desde o Brasil-colônia existe um estreito contato entre nós e o continente africano. Procuraremos entender, de maneira breve, historicamente alguns aspectos desta ligação por meio da questão humana e econômica. No livro “O Brasil e o Mundo Ásio-Africano”, Adolpho Justo Bezerra de Menezes aponta na história brasileira fatores de grande importância para o nosso desenvolvimento humano e econômico, como a migração forçada do negro africano e consequentemente a introdução da cana de açúcar.

Partindo da questão humana o autor afirma, assim como Gilberto Freyre, que o binômio negro e açúcar são essenciais na formação da nacionalidade brasileira. Os escravos trazidos para o Brasil vieram de toda a costa ocidental do continente africano e com o incremento do plantio açucareiro cresceu também a procura do negro em terras da África e consequentemente, o número de escravos no Brasil-colônia. Como consequência do aumento da importância do comércio escravo, a importância política da costa ocidental da África também irá aumentar. Menezes descreve que, “a Costa da Mina (atual república de Gana) e o Reino de Angola são desde logo administrativamente unidos ao Nordeste brasileiro e, mesmo quando o Império lusitano entra em declínio com a ascensão dos batavos, as plagas africanas ainda continuam tendo um interesse vital para o Brasil-colônia.” (MENEZES, 1960, p.21-22).

Brasil e África estiveram tão ligados no ciclo da cana que até mesmo quando os holandeses invadiram o Brasil, estes também invadiram o Forte da Mina, na atual República de Gana. Os holandeses partiram do princípio de que sem a costa ocidental africana o Brasil não teria escravos, e sem escravos não plantaria a cana de açúcar, e como afirma o autor, sem açúcar não haveria Brasil. Além desse aspecto belicoso da história das relações do Brasil-colônia com a África, existiram também durante o século XIX alguns fluxos de pessoas. Fluxo composto por governantes e funcionários que iniciavam suas carreiras burocráticas, e alguns mestiços brasileiros ou negros alforriados que conseguiram sua alforria e foram para a África e fundaram o que é hoje a República do Togo.

Na questão econômica o autor articula que devemos também ao continente africano a nossa produção bovina, pois só á partir da introdução de raças africanas (vindas das ilhas da Madeira e do Cabo Verde) e asiáticas pelos portugueses, que nosso rebanho teve uma melhora de qualidade e impulsionou nossa indústria pecuária para chegar ao patamar de hoje, um dos maiores exportadores de carne bovina. Nessa relação também enviamos para a África algumas mudas de árvore. “Não percebíamos a competição que nos poderiam criar algumas colônias africanas, onde as metrópoles haviam introduzido nossas culturas básicas do café e do cacau.” (MENEZES, 1960, p.26-27).

Adolpho Justo acredita que o papel do africano na formação brasileira é imenso. O negro e a África transbordam em nossa cultura, porém na prática estes são muitas vezes depreciados, o que é uma lástima segundo o autor, pois no Brasil “jamais consideraram a vantagem que poderia advir o Brasil, sua política e sua economia, se soubéssemos aproveitar tal herança, tais entrelaçamentos afro-brasileiros no âmbito internacional.” (MENEZES, 1960, p.26-27).

Referências
MENEZES, Adolpho Justo Bezerra de. O Brasil e o Mundo Ásio-africano. 2° Ed. Rio de Janeiro: Edições GRD, 1960.

Grupo: Kaique Carvalho e Virginia Góes

Subtema: Relações Brasil-África no contexto das mudanças climáticas.

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